domingo, 16 de outubro de 2011

O que realmente importa

Existe coisa mais séria, nesse mundo, do que uma criança brincando? Crianças têm uma seriedade tocante, compenetrada, como se não existisse mais nada. Tudo o que importa no mundo são ela e seus brinquedos. Ela e suas fantasias. Vida de criança é uma coisa muito séria! Mas, vai um dia, a criança cresce. E quando a gente cresce as coisas deixam de ser sérias e viram molecagem.

Às vezes eu me pergunto onde foi que minha vida parou? Onde foi que eu perdi o embrulho de presente que era a expectativa de cada dia desconhecido, que eu trazia comigo, debaixo do braço, doido pra chegar em casa e desembrulhá-lo logo, curtindo a surpresa de adivinhar uma coisa nova? Onde é que foram parar os meus brinquedos?

Tem muita coisa errada. Tem muito sentimento fora de lugar. Tem muita tristeza fazendo de conta que é importante. Querendo ser notada acima da barulheira da nossa vida. Tem havido muito pouca boa vontade entre as pessoas e muito rancor entre os corações. A vida... A vida às vezes é triste.

Mas então eu sinto tudo o que há de melhor em mim surgir de repente, embalado por uma vontade de dizer coisas sem importância para a pessoa mais querida, pelo puro prazer de reconhecer que tudo isso é uma coisa linda! Que o passarinho é a coisa mais inútil do mundo, mas que o mundo não seria o mesmo sem ele! Que a lua às vezes faz a gente ficar com uma saudade danada de uma coisa que a gente nem sabe o que é. Que o mar é um baita de um monte de água que se movimenta, se movimenta e não vai a lugar nenhum! Que a vida não passa, mesmo, de uma brincadeira de criança e tem que ser levada a sério como um jogo de bolinha de gude ou pega-pega.

Ainda há pouco, eu queria mesmo era xingar. Fazer uso pleno e desenfreado da mais firme das instituições nacionais: o palavrão. Mas depois de pensar um pouco a gente percebe que tudo é isso mesmo. Que é besteira ficar chorando ou lamentando. Que a vida tá aí cheia de gente querendo passar. Cheia de sorrisos precisando ser trocados e não dá tempo de ficar resmungando não, porque nem a lua, nem o mar e nem o passarinho vão deixar de ser maravilhosamente inúteis, assim como é completamente inútil a amizade mais sincera e fundamental.

Estão acontecendo coisas que me incomodam sim. Mas elas estão aí e eu não deixarei que me tirem a felicidade e nem o prazer de acordar a cada dia e perceber que tudo isso que é bonito, é de verdade. Que a vida é boa assim mesmo. Que as horas e os dias passam por nossa carne e levam nosso olhar cada vez mais próximo do infinito. E que o amor existe e é a verdade maior e mais importante que deve povoar a nossa convivência. As brigas e as discussões não resolvem nada. Não colorem uma flor nem fazem a grama crescer mais verde.

E assim eu vou vivendo, porque é assim que vale a pena. Hoje eu sou essa criança que brinca sozinha lá no fundo do quintal e aguarda, ansiosamente, a companhia dos amigos.

Um comentário:

Morena disse...

Lindo e emocionante! Parabéns, li o que precisava nesses momentos tão difíceis...