domingo, 19 de dezembro de 2010

Homens Trabalhando


Vinha eu do sul de Minas para minha cidade. Era quase meio dia quando passava por Belo Horizonte. No anel rodoviário, um movimento infernal. Em certa altura, o que mais tememos quando dirigimos: um engarrafamento de, pelo que eu via, aproximadamente 10 Km. Trânsito lentíssimo, praticamente parado. Pesnei logo em acidente ou coisa do tipo.

Os carros mudando de pista a toda hora, tentação à qual eu resisto, uma vez que a lei de Murphy está comigo, sempre pronta a diminuir o fluxo da faixa da pista que eu escolher. Um calor, como diria Nelson Rodrigues, de derreter catedrais, alguns carros com o motor superaquecido, eram obrigados a parar, aumentando o engarrafamento. O coitado do stress, nosso companheiro de todo dia, quase sofrendo, ele próprio, um piripaque.

Conseguimos vencer alguns quilômetros naquele pandemônio a tartaruga, quando comecei a ver, adiante, alguns cones sinalizadores fechando a faixa da pista à esquerda. Mais à frente uma placa com os dizeres: Homens na pista. DNIT trabalhando.

Só aquilo me revoltou. Comecei a pensar na falta de respeito com o cidadão usuário daquela pista. Em outros países, as empresas responsáveis pela manutenção e reparos das rodovias, precisam fazer o trabalho durante a noite e madrugada, horário de menor movimento nas ruas e estradas. E a cada hora do dia em que avançavam sem terminar o serviço, pagam uma multa absurda. Mas não, no Brasil é assim. Faz-se tudo de qualquer jeito e que se dane. Mas tudo bem, a gente já está acostumado. Ainda tem que achar bom, porque aquilo é para o "nosso bem". A estrada está sendo melhorada, coisa e tal.

Andamos muitos metros em passo de lesma, com a referida faixa interditada mas sem ver vivalma fazendo o referido serviço. Passamos por uma viatura policial estacionada ali. Os policiais tentando, como um mágico de festa de criança, fazer o milagre de controlar o trânsito. Motoristas visivelmente perturbados mas calados. Só bem mais à frente foi que vimos alguns homens com ferramentas à mão e qual não foi a minha surpresa ao nos aproximarmos: as ferramentas não passavam de vassouras. Isso mesmo. Eles estavam varrendo o cantinho da pista! Em pleno meio dia! Isso era o DNIT trabalhando!

Naquele momento eu não consegui me revoltar. Eu tive que rir. Não, não dá. O DNIT não merece sequer a minha indignação. Aquilo foi muito ridículo. A minha raiva seria muita honra praquela falta de noção. Onde é que nós fomos parar! até agora, quando eu paro pra pensar eu não acredito. Não pode ser verdade. Aquilo só pode ter sido uma pegadinha. Eles estão nos desafiando ou simplesmente fazendo demonstrações sádicas de poder. Onde é que foi parar o respeito nesse país? O respeito pelo próprio país, onde é que está?

Continuei a minha viagem, ainda meio palerma com aquele fato. Alguns quilômetros adiante, próximo a João Monlevade, no meio de uma dentre aquelas curvas assassinas da BR 381, me deparei com um buraco do qual sequer tive oportunidade de desviar. O carro cheio, inclusive com minha filha a bordo, desequilibrou-se quase fugindo ao meu controle e rodando ou tombando. Foi um susto danado. Apavorante. Daqueles que deixam as pernas da gente frias e moles.

Na hora eu quis xingar. Quis mas não tive coragem. Seria injusto. Minha vontade era cobrar os investimentos do meu dinheiro absurdamente pago, todo ano, em IPVA, amaldiçoar o Estado, as autoridades, o DNIT. Mas não xinguei, não amaldiçoei, não esperneei. Como todo bom brasileiro, entendi que nada poderia ser feito. O DNIT não poderia consertar aquele buraco nem tantos outros que eu vi pela estrada. Não, o DNIT estava ocupado. Estava trabalhando, varrendo o cantinho do anel rodoviário em Belo Horizonte em pleno meio dia de um dia que, até hoje, duvido ter, realmente, acontecido.

Um comentário:

Unknown disse...

E assim seguimos nas tortas e tortuosas estradas, dia após dia, como zumbis, que às vezes são despertados por buracos na pista, ou simplismente por vassouras. E o que vem depois? Angústia, raiva, apatia, talvez..., nada.