terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Amor e medo.


Houve um tempo em que vivia-se mais devagar. Andava-se a pé, escreviam-se e recebiam-se cartas, aguardavam-se notícias que demoravam a chegar. O telefone era apenas fixo. Se a pessoa não estivesse em casa, era como se estivesse em outro planeta: impossível encontrar. Mais que isso, houve um tempo em que as pessoas se apaixonavam.

Apaixonar-se está fora de moda. O próprio coração está fora de moda. Não há tempo para isso. É preciso viver, e viver logo. Viver de qualquer jeito. Viver, antes que a vida nos engula no turbilhão do tempo. A vida, hoje, não é pra ser vivida, é pra ser vencida. Cada dia, cada momento lutando com a faca entre os dentes, às cotoveladas e empurrões, lá vem a vida, vamos, vamos senão ela nos alcança e nos atropela, corramos que a vida lá vem.

Temos medo da vida e dela fugimos. De fato, viver, além de ser perigoso, faz mal à saúde. Mas pior do que viver, pior do que sofrer a vida é não sofrê-la. É não arrancar de todo o drama que ela é capaz de oferecer, de toda a força trágica a ela inerente, as nossas únicas possibilidades de sermos felizes.

Há muito tempo a vida deixou de ser vida e se tornou uma obrigação estafante e assustadora. Não temos tempo de ser. Precisamos fazer, precisamos ter, precisamos chegar a algum lugar e não sabemos que lugar é esse. E assim, fomos deixando o que na vida é "supérfluo". Fomos deixando de lado o que não é produtivo, o que não é lucrativo, o que não é estritamente racional e finalista. Foi aí que a paixão saiu de moda. Mais que a paixão, o amor saiu de moda.

Há pessoas tão idiotas no mundo, que a idiotice de um se torna numa coisa viral e se espalha tão velozmente que, quando assustamos, o mundo não é mais aquele e ficamos, às vezes, com a sensação de que não combinamos mais com o mundo. Ficamos com uma sensação de ET's sem "phone" para ligar pra "home". Inventaram as máquinas e os aviões e a eletricidade e tudo o mais que a inteligência podia criar. Mas desinventaram o amor. A única coisa importante que morava dentro do homem. Mas eu ainda acredito nele.

Sim, eu ainda acredito na paixão e, mais que isso, acredito no amor. Mas não acredito que amor seja um sentimento como a paixão, a dor, a alegria, essas coisas. Não, o amor não é reativo. O amor verdadeiro não acontece de repente como consequência de uma beleza ou de um acontecimento. O amor é uma atitude aprendida. O amor é, mais que sentimento, um princípio moral. A coisa mais sublime que pode existir. Sim, sublime. Se fosse possível definir, eu diria que o amor é a razão dançando com o coração. Ou talvez o amor seja, simplesmente, a razão quando ouve música.

Sim, eu acredito no amor. Mas hoje, falo de amor com saudade. Como quem conheceu uma coisa muito bonita e sabe que ela existe, em algum lugar no tempo, mas que nunca mais haverá como houve um dia. Hoje falo de amor como falo da árvore morta, sozinha no campo. Foi verde, imponente, frondosa. Hoje está morta. Existe ainda... mas está morta. É linda, mas não tem mais vida.

Eu acredito no amor. E isso é o mais triste, porque sei que ele existe: talvez no futuro, talvez no passado, talvez sem vida. Mas existe e ainda é capaz de me lembrar uma imagem bonita que há algum tempo eu tive orgulho de chamar de minha vida, quando dela eu não tinha medo.

Nenhum comentário: