Acabo de ler no
mural do Facebook de uma menina, a seguinte pérola de sabedoria:
"Relacionamentos são como o vidro. Às vezes é melhor deixá-lo
quebrado do que se machucar tentando consertá-lo." Logo abaixo
outra menina comentou: “Fato”. Então eu fiquei pensando: Mas que
coisa profunda! Mas que prova de maturidade! E, em seguida, a esse
arrebatamento de ironia, tive ímpetos irados de desconsolo diante da
boçalidade da juventude atual, tão vazia de valores e tão cheia de
si mesma.
Esse é o tipo de
sabedoria cretina que se encontra nos livros de Paulo Coelho e que
tem acometido os “intelectuais” de encomenda. Sabedoria de
adolescente irresponsável. Sabedoria ao estilo Legião Urbana.
Sabedoria que cria uma imagem e vive dessa imagem, mesmo que ela não
tenha conteúdo ou o que é pior, que ela tenha um conteúdo imbecil
e desmoralizante. E como isso é grave!
Tenho me
perguntado sempre: o que aconteceu com a família? O que aconteceu
com o casamento? O que aconteceu com os namoros ou até mesmo com as
amizades? Será que essas são instituições falidas? Será que tudo
isso foi uma balela criada para domesticar o homem? Será que esses
valores, que serviram durante tanto tempo para fazer florescer o que
de mais humano existe em nós, hoje em dia já não servem mais pra
nada? Vamos pensar um pouco e analisar os fatos. É uma coincidência
enorme que, uma vez derrubados esses princípios, a humanidade tenha
se embrenhado de forma tão desesperadora num niilismo
estupefaciente. A humanidade, hoje, anda sem rumo pra lá e pra cá
numa correria sem sentido. Não sabe para onde vai, mas sente que não
pode parar. E está claro. Todo o sentido foi minado pela indolente
sabedoria de conveniência.
Sim, tudo aquilo
que dependa de relacionamentos perdeu a capacidade de nos tornar
melhores. Não nos preocupamos mais em investir o melhor de nós
nesses relacionamentos. Não queremos ser melhores em prol dos
relacionamentos. Esperamos, isto sim, que os nossos relacionamentos
nos presenteiem com os maiores prazeres que o mundo pode oferecer.
Com uma vida linda e prazerosa, caída do céu.
Ah, mas que coisa!
Eu fico, mesmo, admirado. Então, segundo essa mais nova sabedoria, é
melhor deixar nossos relacionamentos quebrados, fingindo-se de
vidraças, quando na verdade, eles não passam de um amontoado de
cacos de vida. Sim, segundo a nossa juventude, é melhor, que seja
assim, porque a gente pode se ferir, se tentar consertar e, é claro,
ninguém quer se machucar. Então vamos vivendo assim mesmo, com
nossa vidraças quebradas. Deixa assim mesmo. Até porque, se a gente
conseguir consertar, um dia ela acaba se quebrando de novo, pois a
vida tem dessas coisas, ela quebra as vidraças da gente.
Na verdade, amigo,
o problema é o seguinte: a vida não quebra nossas vidraças. Somos
nós que as quebramos ou, no mínimo não cuidamos para que elas não
se quebrem. A vida é apenas a oportunidade que Deus nos deu de
cuidarmos bem das nossas vitrines. Somos nós que a construímos, dia
após dia, com nossas atitudes. Nossa sociedade irresponsável,
hedonista, viciada em prazer e bem estar, entretanto, não admite que
a vida seja uma responsabilidade pessoal. Não admite que a vida é uma
questão de atos e não de fatos. A vida não é algo que acontece
fora da gente e que implica, na maioria das vezes em injustiças
contra nós. Não. A vida é tudo aquilo que a gente faz ou deixa de
fazer. A maioria das pessoas se sente injustiçada pela vida, e não assume que quem viveu de forma esculhambada foram elas mesmas e,
assim, nada mais podem fazer, senão se lamentar.
É verdade.
Consertar vidro quebrado é algo complicado que pode nos causar
alguns cortes e arranhões. Mas veja bem como são as coisas: ninguém
deixa uma vidraça quebrada, seja numa vitrine ou na janela de casa.
Mas quando a imagem dessa vidraça pode ser usada para justificar um
comportamento irresponsável, ela é usada da forma mais
inconsequente.
Entre ter uma
vidraça quebrada ou não ter vidraça nenhuma, eu opto pela segunda.
Uma vidraça quebrada é a coisa mais perigosa que pode haver. Ela
pode se desfazer em cacos de repente e, aí sim, causar danos
devastadores. Machucam-se todas as pessoas que se encontram próximo.
E as feridas são incomparavelmente mais graves.
Da mesma forma,
minha querida amiga do vidro quebrado, pense bem: se você não quer
consertar o seu relacionamento, não tenha relacionamento nenhum,
porque, de fato, você pode mesmo, se machucar, tentando consertar as
rachaduras desses relacionamentos, mas depois as cicatrizes vão te
mostrar que você venceu e hoje seu relacionamento é uma coisa
transparente e segura, do qual você pode cuidar, mantendo limpo e
intacto, como o vidro. Não, prefira não ter relacionamento nenhum,
pois, caso você decida não arriscar e acabe deixando o seu
relacionamento rachado, terá sempre, no próprio relacionamento, a
prova pública do fracasso e da ilusão que é a vitrine da sua vida.
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