quarta-feira, 4 de abril de 2012

A Beleza


Ainda sobre postagens no Facebook,  minha prima Paula postou, ontem, um trechozinho do conto Campo Geral, de Guimarães Rosa. Um conto absurdamente belo. Não apenas bonito, mas belo. Sublime. Absurdo, enfim. Não vou tecer comentários a respeito do conto porque não me julgo digno disso. Quero mesmo é falar um pouco sobre a beleza, tarefa para a qual, aliás, também me julgo indigno.

A releitura do trecho citado despertou-me algumas questões. O que é, de fato, a beleza? É algo que está na nossa percepção apenas? É mero resultado da nossa intelecção ou é algo que está efetivamente no objeto apreciado? É objetiva ou subjetiva? Ela serve para alguma coisa ou é simplesmente uma distração inventada pelos sentidos para nos ludibriar e desviar nossa atenção das reais feições carrancudas da vida? Em que, afinal, consiste a beleza?

Não tenho, é lógico, a intenção de responder cientificamente a nenhuma destas questões. Pretendo apenas meditar e levantar possibilidades. Não quero convencer ninguém nem mudar opiniões. O que eu quero, na verdade, é descobrir o que penso a respeito.

Antes de tudo, quero deixar claro que eu acho a beleza algo fundamental. A beleza em si mesma. Não falo das coisas belas. Repito: eu acho a beleza fundamental. Não a considero um mero acidente. Considero-a um atributo das coisas criadas. Sim. Não admito que a beleza seja obra do acaso, como muitos acreditam que seja a própria vida. Acredito que as coisas são criadas. Há um design inteligente. E a beleza é um atributo levado em consideração nesse design.

O homem sempre se sentiu, é óbvio, intrigado diante da beleza. Platão acreditava no belo em si. Uma essência ideal à qual as coisas existentes imitavam. Um padrão de julgamento, digamos assim. Ou seja, a beleza está nas coisas, que seriam a representação de um ideal. As coisas imitariam uma "forma" ideal, que segundo cria Platão, era inalcançável.

C.S. Lewis, pelo que vi em "A abolição do homem", também acredita que a beleza seja um atributo presente nas coisas. Outros, como Aristóteles ou David Hume, por exemplo, relativizam a beleza e consideram-na apenas uma impressão humana. Algo meramente subjetivo. E quando falamos em beleza, segundo eles, não falamos senão de nossos sentimentos sobre alguma coisa. Apenas isto.

É interessante. O homem secular, cético e racionalista é uma criatura cretina mesmo. Ao mesmo tempo em que se destrona do privilegiado posto de obra artística divina, criada com um propósito, relegando-se à categoria de ameba evoluída ou de macaco último modelo versão turbinada, considera-se, ao mesmo tempo, o suprassumo da inteligência espiritual, capaz de criar uma sensação de beleza pra lhe arrefecer os terrores da vida real.

Ou seja: para estes, a beleza é uma ilusão. Uma válvula de escape criada pelo universo ou pela força evolutiva, ou por sabe-se lá que inteligência, para tornar a existência mais palatável. Para eles a existência não possui o menor sentido, visto que é um fim em si mesma. O homem é um nada no tempo e no espaço, que surgiu sem motivo e será extinto sem que, no futuro, subsista qualquer lembrança da nossa existência. O universo não será alterado em nada, pela nossa existência. Simples assim. Viemos do nada e para lá voltaremos.

Pergunto eu, então: Pra que existe a beleza? Pra que os sentimentos se no fim das contas não faz diferença? Não seriam uma mera tortura, um defeito evolutivo, esses motivos para nos apegarmos à vida, já que a função da vida é simplesmente nos levar à morte? À não existência absoluta? Não sei, mas para mim esse raciocínio é meio idiota.

Eu acredito na beleza. Na beleza em si, não como ideal inalcançável. Como forma ideal de todas as coisas, como queria Platão. Não. Acredito na beleza como um valor, um princípio comparável à verdade e à bondade. A beleza como um atributo da inteligência. Da criatividade. A beleza cuja importância foi destacada pelo arquiteto do universo. A beleza que nos eleva. Que nos enleva! Que torna o mundo melhor e que nos torna melhores, em consequência. Sim. Como diria Vinícius: beleza é fundamental.

Sempre que falo de beleza a arte me vem à mente, como não poderia deixar de ser. Sim, a beleza é o motivo da arte. Mas como se explica então o que muitos "intelectuais" têm chamado de arte, coisas sem sentido, desde o início de século XX, quando um francês retardado chamado Marcel Duchamp assinou um urinol com um pseudônimo e expôs aquilo como obra de arte? Como explicar que as pessoas acreditaram nisso? E o que é pior: desde então a "arte" vem se degenerando em obras bizarras e estapafúrdias, levantando exclamações de espanto fingidas de admiração. 

Só pode haver uma resposta. O homem é um suicida espiritual. O homem é, por natureza, mau. O homem tem a necessidade de destruir tudo aquilo que pode redimi-lo. Tudo aquilo que pode trazer esperança. O homem é perverso e, em si, não pode haver qualquer tendência para o bem ou para nada que seja belo. Quanto mais ele se afasta de sua origem divina, mais ele se apega ao feio e desconcertante. Basta compararmos, por exemplo, a Suite nº 1 para Violoncelo, de Bach, com qualquer "música" dodecafônica dissonante de Schoenberg. A primeira nos faz sonhar. A outra nos exaspera, nos assusta e nos incomoda.

Desde o nascimento dessa "arte" sem sentido a humanidade tem se especializado numa maldade cínica. Num ceticismo ridículo e rude. Nega todos os valores. Descrê todos os princípios. Transmuda os reais focos de importância para a vida. A arte não mais almeja a beleza. Ela quer, agora, perturbar e quebrar os tabus morais. Assim, a arte que, quando expositora da beleza, fora um remédio contra o caos e o sofrimento, passa a ser, agora, um veneno que termina por matar o doente, acrescentando-lhe mal-estar e desesperança.

Olha aí alguns exemplos dessa "arte" pós moderna e veja se isso não é obra de um completo retardado:



Comparemos a "arte" acima com o rosto pintado na obra o Nascimento de Venus, por Botticelli:


Ou com uma pintura impressionista de Monet:


Senhores, admiradores da feiura, sinto muito informar-lhes, mas o rei está nu. Vamos acabar com a palhaçada. Deixem de fingir admiração diante de uma lata de bosta ou de uma tela suja de tinta. Elas não passam de uma lata de bosta e de uma tela suja de tinta. Não se tornaram arte porque alguém assim os chamou. Isso não é belo. E não me venham com essa de mostrar o mundo como ele é. O mundo não precisa ser mostrado como ele é, pelo motivo óbvio de que ele já É do jeito que é. Ele se mostra a si mesmo.

Precisamos mesmo é da beleza. A beleza que colore flores e quintais. A beleza que alegra uma criança despreocupada. A beleza utilizada prodigamente por Deus no design universal. A beleza de uma vida apaixonada. E principalmente o deleite de viver com a esperança que, em meio a esse mundo feio e mal cheiroso, só a beleza pode nos dar.

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