domingo, 25 de setembro de 2011

Manifesto de abandono à boemia

Declaro definitivamente encerrada a minha carreira boêmia. Não, não abandono, com isso, a vida social nem a companhia dos amigos que me são, como todos o sabem, tão fundamentais. Abandono, antes, a vira-latice de estender a madrugada até o próximo bar, na esperança de nele encontrar o restinho de um sonho que ainda não começamos a sonhar. Essa mania de uivar pra lua nossas verdades eternas que não duram mais do que o período de uma ressaca moral.

Declaro, não obstante, meu amor aos sentimentos mais vira-latas, mais pobres-diabo e, por conseguinte, mais sinceros encontráveis só nas noites de boemia. Não é sem pesar que deixo meus amigos vira-latas com suas luas e seus amores, suas dores e suas madrugadas. Mas saibam, entretanto, que não abandonarei jamais esta mania de esperar sempre o brilho de um olhar buscando a compreensão de outros olhos, ainda que cansados de outras noites e de outras ilusões.

Declaro aberta a temporada de sossego ao coração, tão cansado de sobressaltos e agonias. Tão surrado e mal tratado pelas intempéries sociais e sentimentais.

Declaro, por fim, a saudade constante dos amigos, ainda que presentes e bastantes, que me dão pena de mim por não ser amigo à altura. Por não trazer, em mim, a naturalidade das mãos dadas e nem a desenvoltura do abraço apertado. Faltas, talvez, mal compensadas pela comunhão das tristezas compartilhadas.

O presente manifesto tem validade definitiva... ou deixará de vigorar diante da primeira prova de total incompetência por parte do signatário em assumir compromissos que atentem contra a natureza vagamente vagabunda dos mendigos, boêmios e cantadores da alma das ruas.

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