terça-feira, 30 de agosto de 2011

O retrato da estupidez


Tenho recebido em meu e-mail, há algum tempo, editoriais de um site chamado PontoCrítico.com. Vinha concordando com muitas opiniões ali defendidas até o dia de hoje, quando recebi o último post. Mudo completamente de opinião quanto ao site e, indignado com tão raso raciocínio social ali apresentado, sinto-me até envergonhado de haver assinado aquelas web letter.

Enviei, imediatamente, um e-mail ao site, criticando o post, mas, no calor da indignação, atropelei o próprio raciocínio e deixei de falar muita coisa que gostaria. Com um pouco mais de calma, no entanto, postarei aqui, de forma mais detalhada, o meu pensamento com respeito à opinião daquele editorial, usando, para tal, grande parte do texto enviado por e-mail.

O editorialista começa falando, em seu post, sobre as greves pelos estados brasileiros e especifica alguns detalhes de sindicatos do estado do Rio Grande do Sul, estado, pelo que percebi, onde reside o articulista.

Para justificar o título do post, O Retrato da Estupidez., o autor já começa fazendo uma das declarações mais burras que eu já vi uma pessoa que se julga inteligente fazer. Diz o seguinte: "Em geral, as greves só têm como objetivo o aumento de salários. Como as diversas classes de trabalhadores são lideradas, basicamente, por sindicalistas cujo perfil tem como ingredientes altas doses de ignorância e farta agressividade, as greves não se propõem a atacar as causas das eventuais baixas remunerações."

Meu querido amigo, segundo P. Muller citado por Arnaldo Süssekind. p. 627, “A Greve é a recusa coletiva e combinada do trabalho a fim de obter, pela coação exercida sobre os patrões, sobre o público ou sobre os poderes do Estado, melhores condições de emprego ou a correção de certos males do trabalho”. Acrescento eu que os sindicatos existem para defender os interesses de uma classe específica e não as mazelas da administração pública. Portanto, se eles não se propõem a atacar as causas das eventuais baixas remunerações, é porque os sindicatos não têm essa atribuição. Eles não têm nada com isso. Isso é responsabilidade do empregador, dos economistas, do poder Executivo, de quem for, mas, certamente, não é dos sindicatos. Eles defendem os interesses da classe. E a greve é um instrumento assegurado pela lei atravé do qual uma classe pleiteia seus interesses, sejam eles salariais ou de condições de trabalho.

Quero deixar claro, de antemão, que tenho verdadeira antipatia por sindicatos ou qualquer organização com tendências esquerdistas, mas, cá pra nós. Não quero defender sindicatos ou classes. Uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Quero defender um pensamento lógico. Quem sabe mais justo.

É muito hipócrita quando nos acomodamos em nosso conforto financeiro e social para brandir conceitos ou opiniões economicamente "responsáveis" e "coerentes". Independentemente da estupidez e do detestável viés "revolucionário" dos sindicatos em geral, não há que se falar em remendos quando tratamos de educação, saúde e segurança pública. Não precisamos aceitar desmandos e incompetência estatais. Ora, todos sabemos que a educação brasileira é ridícula. O descaso para com ela é institucionalizado. Sim, respito: Institucionalizado. Não é por acaso que o brasileiro tem uma educação esculhambada. A coisa é visivelmente deliberada. Por que, então, penalizar os professores - que deveriam ser reconhecidos pela dignidade de sua função - pela política educacional invertida que este país adota? Você, caro editorialista, numa atitude, no mínimo desonesta, porque sei que você é inteligente e tem capacidade de encadear um raciocínio complexo e coerente, culpa os professores por serem despreparados! Amigo, essa é uma questão cultural! Culpa clara da atual tendência esquerdista. Atitude fundamentalmente Gramsciana, talvez. E quando digo atual tendência, você sabe, me refiro aos últimos 25 anos. 23, se considerarmos apenas a data da promulgação da CF de 1988.
 
Reproduzo aqui as suas palavras: "Pois, da mesma forma agressiva, os contribuintes gaúchos deveriam procurar imediatamente a Justiça, para exigir uma qualidade de ensino equivalente, na mesma proporção. Coisa que, indiscutivelmente, os ditos professores vêm sonegando há muitos anos."
 
Os professores sonegam o ensino? Amigo, há quanto tempo o Brasil não produz uma pesquisa científica séria? Há quanto tempo as melhores instituições públicas de ensino - e falo de PUC, por aí a fora - não formam um pensador de verdade? Este país não quer educação. Este país não investe em educação. Você queria que os professores exímios surgissem de onde? Geração espontânea? Isso não existe! E vem você nos perguntar se pode, os professores e policiais desejarem aumento de salários sem querer mais impostos! Pois... sinceramente? Pode. Sem dúvida, pode. O professor e o policial, embora você não compreenda, são pessoas. Não são números. São pais, mães, que querem ter filhos, querem que eles também tenham uma educação digna, querem ter casa própria, querem ter tempo de se dedicar a sua vida particular, familiar, etc.
 
A questão é muito mais complexa do que esta. Nós, pacatos cidadãos, deveríamos estar cansados de aceitar remendos. Quando passamos dificuldades financeiras, não nos interessa a nós, cidadãos honestos, que o governo aplique erradamente a receita dos impostos recebidos. Queremos a prestação dos nossos direitos hoje. Agora. Imediatamente. Queremos a dignidade que merecemos. É uma atitude covarde abrirmos mão de cobrar o que é dos nossos interesses porque o governo é irresponsável e, alem de tudo, tem enchido os bolsos com o dinheiro que deveria ser corretamente aplicado. Há quanto tempo temos aceitado pagar pedágios absurdos, para podermos dirigir em estradas decentes, por exemplo, ainda que paguemos, cada um de nós, milhares de reais em IPVA, todos os anos pelo simples direito de possuirmos um veículo automotor!
 
Se não me falha a memória, é você quem se ufana de autointitular-se politicamente incorreto. Meu amigo, sinceramente, você demonstra, muito pelo contrário, uma atitude vassala. Ridícula. O que é uma pena, porque são claras as evidências do seu vasto conhecimento econômico. 

Aliás, creio que o problema esteja justamente aí. Você vê tudo pelo prisma econômico. Mas, amigo, a finalidade da políticia não pode ser a economia. O fim ideal da política deveria ser o bem estar humano. Sem o ranço socialista e sem o coitadismo irresponsável e entreguista rousseauniano. Um fim alcançado pela via liberal, pela via da confiança, da boa vontade e da responsabilidade. Coisas inexistentes e até contrárias ao atual governo brasileiro.

Cito a última frase do seu artigo: "Além de país de mal educados, em breve seremos o país dos endividados. Para poder pagar impostos sem retorno algum." 

Ou seja: você defende que os professores, ainda que recebendo um salário muito abaixo do teto federal estabelecido em míseros R$ 1.187,00, devam ser responsáveis por resolver os problemas decorrentes da política da "deseducação" há muito tempo aplicada no Brasil. E, ainda mais assustador: você considera que os atuais impostos pagos geram algum retorno para a sociedade!

Amigo, se você tem alguma consciência, pare de pensar em números. Números não sentem fome ou indignação pelo descaso de um governo criminoso que não tem feito mais do que solapar a dignidade e a vergonha do povo brasileiro.


Meu amigo, sua indignação é ridícula. E o retrato da estupidez é a sua falta de vergonha em acusar servidores pelas mazelas desse país que aprendeu, com o tempo, a ser mau caráter como Povo e como Nação. Isso é triste. Não precisava ser assim.

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