segunda-feira, 30 de maio de 2011

Yes, Nós Temos Apartheid (ou: Mais Uma Cagada Oficial)


É, meu amigo, tá difícil. A gente tenta ser brasileiro com orgulho, mas, vamos confessar: lá no fundo dá é vergonha, num dá não? A gente até repete aquelas bobagens de que brasileiro é um povo alegre, não desiste nunca, tem as melhores praias, coisa e tal, mas... tá brabo. Quando entra na esfera do caráter e da maturidade social e política o trem desanda. Eu gosto do meu país, gosto dos meus amigos e gosto do meu povo, sim. Se reclamo não é pra esculhambar não. Se reclamo é porque, às vezes, eu acho que eu é que tô sendo esculhambado. Tão de sacanagem comigo. Ô politicazinha porca, a nossa. Os caras só fazem cagada.

Eu já cansei de ouvir dizerem que no Brasil não existe discriminação ou preconceito, seja por motivo de raça, credo, cor ou outro fator diferenciador. Aliás, diferenciador o caramba. Começa por aí: tratam isso como diferença. Isso não é diferença coisa nenhuma. Para o Estado não. Um povo é formado da pluralidade de particulares. Todos, como pessoas, são diferentes. Todos. Entretanto, são considerados iguais perante a lei. Mas iguais como? Quer dizer que, no Brasil, a lei considera que todos temos olhos azuis e o cabelo penteado pra trás? Não, não. Quer dizer que todos, em suas diferenças, serão tratados da mesma forma e terão os mesmos direitos. Quer dizer que a modelo loira de olhos azuis terá direito de assistir um filme no mesmo cinema que o matuto da roça, feioso e despenteado. Mesmo que ela chegue numa BMW e ele numa Rural 74.

O Brasil é um Estado Democrático de Direito e, como tal, pauta suas políticas internas, externas, sociais e econômicas, nas leis. Os poderes, executivo, judiciário e legislativo são limitados por uma Constituição Federal. Tá, beleza. E qual é a minha com essa chatice? É o seguinte: se todos são iguais perante as leis e se o Brasil deve ser governado sob o princípio da observância das leis, que história é essa de kit anti-homofobia? Não tô entendendo mais nada. Que coisa ridícula é essa? Você percebe que, no Brasil o Estado possui uma inclinação irresistível de separar e diferenciar as pessoas? Antes vieram as tais cotas raciais, depois a lei de ficha limpa, agora o kit anti-homofobia. Mania que o brasileiro tem de querer ser defendido de si mesmo!

Sim, meu amigo, no Brasil existe preconceito sim. E o trem aqui é bacana, né de qualquer jeito não. Aqui o preconceito é institucionalizado. Tem lei que rege a bagunça e tudo. Tem lei que separa o preto do branco. Tem lei que separa o político impune do político que já foi processado. E agora querem uma lei que separe o gay do heterosexual. Aliás, não só que separe mas que, acima de tudo, ensine a separar. Que ensine professores e diretores de escolas a diferenciar bem as coisas.

Eu tenho feito o possível pra não assistir às notícias, ultimamente, por medo de sofrer um infarto precoce, mas soube que a presidente Dilma não aprovou esse troço. Afortunadamente, houve um filho de Deus com a cabeça no lugar pra aconselhá-la, porque eu sei e você também sabe, que ela não toma decisões. Ela não tem essa capacidade de raciocínio, a gente sabe disso. Aliás, ela até toma, mas muda de acordo com a preferência do freguês, como aconteceu, na época das eleições, com respeito à polêmica sobre o aborto. Mas fato é que ela não aprovou. Pois não é que se ajuntou um monte de sem o que fazer na praia de Ipanema pra protestar! Eles queriam a aberração aprovada! Gente, gente, onde é que nós vamos parar? O brasileiro e sua opinião enlatada, comprada a preço módico no supermercado das "ideologias" furadas dos desabastecidos de idéias! 

Sabe o que eu acho? Eu acho que a gente tá precisando de uma nova revolução. Um novo golpe militar, ou um novo Estado Novo, pra ver se esse povo acorda. Pra ver se esse povo aprende o que é uma ideologia. O que é coisa séria e o que não é. 

Isso é política de inclusão social? Ah, me ajuda aí. Pra cima de mim? Chega de baboseira. Tá bom: a partir de agora vai ser mais fácil ser gay no Brasil. Ah, beleza. Tá resolvido o problema dos "nobres sociólogos" do MEC. Tá tudo mais fácil. Agora: quero ver ser paralítico. Quero ver ser cego. Quero ver ser deficiente físico e estudar numa escola sem rampas de acesso, sem banheiros especiais, sem a menor estrutura capaz de dar o mínimo de possibilidades a portadores de deficiências. Resolver esses problemas sim, seriam políticas de inclusão social. Tomem vergonha na cara. Lavem a boca antes de falar em políticas públicas. Isso que estão fazendo é cachorrada. Tão fazendo a gente de otário.

Vamos pensar só um pouquinho: pedir a aprovação de uma lei que crie um kit anti-homofobia é reconhecer que os homosexuais são pobres alienígenas sem planeta que devem ser tratados com piedade e comiseração pelo povo brasileiro, muito hospitaleiro e que aceita qualquer coisa em seu meio. Que se crie também, portanto, um kit anti-baixinhofobia. Um anti-quatrolhofobia. Outro anti-gordofobia e por aí vai, ad infinitum.

Eu me lembro de quando eu era estudante na escola primária e secundária. Ah, se me lembro. Lembro-me bem que eu praticava e sofria muito do que hoje se chama de bulling. Eu era baixinho e usava óculos. Meus apelidos eram Chiuaua, ratinho, quatro-olhos e outros do gênero. Em compensação eu não podia ver um defeitinho num colega que também caía matando. 

Toda criança é meio perversa. Não por maldade, mas por falta de compreensão das diferenças e, mais que isso, por falta de compreensão dos sentimentos. Tanto os próprios quanto os alheios. Crianças sempre vão tirar sarro de outras crianças. É preciso que nós adultos, pais, professores, diretores, etc., estejamos sempre por perto para instruí-las, repreendê-las quando necessário e, principalmente, darmos o exemplo de cidadania e humanismo. É com isso que o MEC devia se preocupar. Em preparar os professores. Em torná-los formadores de homens, formadores de cidadãos.

Um kit anti-homofobia não vai acabar com a homofobia. Vai alimentá-la. Vai exacerbá-la. Um kit anti-homofobia não vai acabar com os skinheads, por exemplo.Tentar tratar um sintoma, às vezes, é a pior coisa a se fazer. Quando se tem uma febre, o mais importante é tratar a infecção que a motiva e não a manifestação do corpo que demonstra que algo está errado.

Somos um país doente. Somos uma sociedade enferma. Nunca se pensou, na história deste país, em criar-se um kit anti-exclusão-social. Nunca se pensou em criar-se um kit anti-indignidade, anti-maucaratismo, anti falta-de-vergonha-na-cara. Se os gays não são respeitados, é porque o brasileiro não aprendeu a respeitar a individualidade do seu próximo. Não aprendeu a respeitar os direitos e as particularidades de seu irmão.

A falta de respeito a um semelhante não é uma doença. É só um sintoma. Não passa de uma manifestação febril de que a humanidade padece por falta de caráter. Por falta de humanismo. Por falta de amor.

Um comentário:

Paula disse...

FICOU LINDOOOO! DE MORRER!
AMEYYYY ;) parabéns pras empresárias idealizadoras hahaha